O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) durante sessão solene na Câmara dos Deputados - Marcelo Camargo - 29.mai.2019/Agência Brasil
O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou a interlocutores com quem mantém contato direto no Brasil que foi traído pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Bolsonaro disse acreditar que a parlamentar fez um acordo com o ministro do Supremo Tribuna Federal (STF) Alexandre de Moraes para retornar às redes sociais e se ver livre da ameaça de ser presa.
Ele teve essa certeza no dia 6 de fevereiro, quando leu a notícia de que o magistrado tinha permitido que Zambelli reativasse suas redes, então suspensas por ordem do tribunal.
Na decisão em que desbloqueou os perfis dela no Facebook, Twitter, Instagram, TikTok, Gettr, WhatsApp e Linkedin, o magistrado afirma que houve "a cessação", por parte de Zambelli, "de conteúdos revestidos de ilicitudes e tendentes a transgredir a integridade do processo eleitoral".
Num primeiro momento, a reação de Bolsonaro pareceu exagerada a seus amigos e auxiliares com quem mantém contato direto.
Eles creditavam as falas ao que definem como paranoia do ex-presidente, que sempre desconfiaria de tudo e de todos ao seu redor, acreditando apenas na lealdade de seus próprios filhos.
Nesta quinta (23), a deputada reforçou a desconfiança do entorno de Bolsonaro com suas próprias palavras: ela deu uma entrevista à Folha repleta de críticas a Bolsonaro e de recados de pacificação ao STF.
Zambelli disse, por exemplo, que a prioridade dela agora não é mais defender Bolsonaro, mas sim atacar o presidente Lula (PT).
"Eu tinha o papel de defender Bolsonaro e o governo, qualquer um que os atacasse tinha que virar um alvo meu. Nesta legislatura, Bolsonaro não é mais presidente, então nosso alvo tem que ser Lula, seus feitos e desfeitos", afirmou.
Disse ainda que atacava o Supremo para "proteger" o ex-presidente. E admitiu que partiu dela a iniciativa de lançar uma ponte de diálogo com Alexandre de Moraes para inclusive protegê-lo do PT.
"Liguei [para Alexandre de Moraes] e mandei um email. Alguns dias depois, minha rede foi devolvida, pode ter sido um gesto. Estou à disposição dele para conversar. Porque ele vai ser um alvo do PT daqui a pouco. O PT não vai se contentar em indicar somente os dois ministros que vão se aposentar", afirmou ela na entrevista.
A deputada afirmou também que agora é contra o impeachment de Alexandre de Moraes, defendido pelo ex-presidente quando ainda estava no comando do país: "Bolsonaro não ganhando, a gente tem que virar a chave. Qualquer impeachment no STF, o substituto vai ser indicado por Lula. Pode entrar uma pessoa que faça as maldades do Alexandre de Moraes parecerem uma criança chupando picolé".
E disse mais: "A gente está em outro patamar, agora não é hora de bater no STF, não é hora de fazer manifestação".
No capítulo das críticas a Bolsonaro, ela citou o silêncio dele depois das eleições e a permanência nos EUA.
"Discordo da maneira como ele [o ex-presidente] levou aquele tempo todo [para falar após a eleição] e o silêncio que teve. Ele tinha que organizar a oposição, orientar a gente, ele tinha 28 anos de Câmara.
Tínhamos que mostrar nosso descontentamento até para incentivá-lo a ser a voz da oposição", declarou a parlamentar à Folha.
"Na live que Bolsonaro fez em 30 de dezembro, ele tinha que ter deixado claro o que pensava. Ele seria um remédio se tivesse dito que era para as pessoas saírem dos quartéis", disse ainda Zambelli.
Para ela, o ex-presidente "deveria estar aqui para liderar a oposição. A gente teria mais condições, capacidade e força".
Por: Mônica Bergamo, jornalista e colunista do Folha de SP
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